Kate Lyra vai muito além de um bordão
Conhecida pela frase “brasileiro é tão bonzinho”, atriz continua na ativa e atua em diferentes projetos Atriz, escritora, roteirista, diretora de cinema, pesquisadora, produtora musical, cantora, letrista de canções gravadas, entre outros, por Sérgio Mendes. Kate Lyra é tudo isso, embora, para milhões de brasileiros, seu nome vá estar sempre associado ao bordão que a consagrou em programas humorísticos na década de 1970. O público amava a personagem que, ingenuamente, acreditava que “brasileiro é tão bonzinho” quando, na verdade, era alvo de investidas masculinas das mais calhordas. Na verdade, o bordão já existia. Fora utilizado, com sucesso, pela atriz romena Jacqueline Myrna, com sotaque francês. Hoje em dia, o quadro provavelmente seria cancelado nas redes sociais devido ao viés machista, mas Kate nunca se deixou aprisionar pelo rótulo de “pin-up”, abrindo inúmeras frentes de trabalho e militância. Kate Lyra: escritora, roteirista, diretora de cinema, pesquisadora, produtora musical Mariza Tavares “Devo ser a única pessoa no mundo que conseguiu um papel porque falava abominavelmente o português”, diverte-se. Como modelo, começou a trabalhar aos 17 anos, e também cantava e dançava. Seu agente a levou para um teste no México, onde o músico Carlos Lyra, 16 anos mais velho, se dedicava à montagem do musical “Pobre menina rica” para a TV daquele país. Foi paixão à primeira vista. Casaram-se em 1969 e, em 1971, vieram para o Brasil, onde nasceu a filha do casal, a cantora e compositora Kay Lyra. Para descomplicar a vida, Katherine Lee Riddell Caughey adotou o sobrenome do marido. Ficaram juntos até 2004. No dia 3 de julho, Kate completará 74 anos em plena atividade. Desde 2007, seu parceiro profissional e de vida é Steve Solot, uma referência no setor audiovisual norte-americano e brasileiro. Depois de mais de uma década como executivo da Motion Pictures Association na América Latina, que representava os grandes estúdios, ele ocupou cargos na Netflix e na Rio Film Commission. Coincidentemente, ambos nasceram no estado do Arizona, e foi lá que oficializaram o casamento, em 2017. “Estamos sempre desenvolvendo novos projetos. É muito bom quando se tem um parceiro com a mesma energia e curiosidade sobre o que acontece no mundo”. Os dois acabaram de lançar um curso de inglês técnico para profissionais da área de audiovisual em três níveis: básico, intermediário e avançado. O objetivo é qualificar a mão de obra que atua nos bastidores, de maquiadores e continuístas a eletricistas e técnicos de som. “Com o streaming, há muitas possibilidades de coprodução, mas as equipes precisam dominar o inglês para ter oportunidades na carreira”, explica. Uma versão em espanhol está a caminho. No segundo semestre, realizarão a 14ª. edição do Latin American Global Film & TV Program, em Los Angeles, que atrai não apenas participantes brasileiros, mas também de outros países. O programa inclui palestras dadas por especialistas e acesso ao American Film Market, um dos maiores eventos do mercado de produtores independentes. Inclui ainda uma sessão de “pitch” e Kate se encarrega de preparar o que não se sentem à vontade para apresentar suas propostas em inglês. Como pesquisadora do Centro de Estudos Sociais Aplicados da Universidade Candido Mendes, que tinha um núcleo de estudos musicais, ficou fascinada com o universo do rap e do funk. Escreveu dois artigos acadêmicos publicados aqui e nos EUA, além de viver uma experiência inesquecível ao sair de um baile na favela com outros pesquisadores: “Estava dirigindo e fomos parados. Um dos policiais inclusive apontou para o relógio e disse: ‘isso é hora de estar saindo da favela? Vão me dizer que têm parentes que moram lá?’. Comecei a explicar que estávamos ali para fazer uma pesquisa e notei que cochichavam entre si: ‘é aquela do brasileiro tão bonzinho’. E nos deixaram ir, graças ao bordão”. A receita de Kate para envelhecer bem? Além de estar sempre envolvida em novos projetos, faz ginástica todo dia e check-ups regularmente. Sobre dietas, é categórica: “nessa idade, já sabemos o que devemos ou não comer”. Usa uma citação do escritor Robert Louis Stevenson como um de seus mantras: “O mundo é tão cheio de coisas maravilhosas que todos deveríamos ser felizes como reis” (“The world is so full of such wonderful things, I think we all should be happy as kings”). “A frase continua me alimentando. Também me move uma fala de Vinicius de Moraes, durante uma entrevista, quando lhe perguntaram se tinha medo da morte: ‘não, eu tenho é saudades da vida’. Hoje posso dizer, com grande compreensão, que tenho muitas saudades da vida, que dança a nosso redor, e que cada momento é precioso”.
Conhecida pela frase “brasileiro é tão bonzinho”, atriz continua na ativa e atua em diferentes projetos Atriz, escritora, roteirista, diretora de cinema, pesquisadora, produtora musical, cantora, letrista de canções gravadas, entre outros, por Sérgio Mendes. Kate Lyra é tudo isso, embora, para milhões de brasileiros, seu nome vá estar sempre associado ao bordão que a consagrou em programas humorísticos na década de 1970. O público amava a personagem que, ingenuamente, acreditava que “brasileiro é tão bonzinho” quando, na verdade, era alvo de investidas masculinas das mais calhordas. Na verdade, o bordão já existia. Fora utilizado, com sucesso, pela atriz romena Jacqueline Myrna, com sotaque francês. Hoje em dia, o quadro provavelmente seria cancelado nas redes sociais devido ao viés machista, mas Kate nunca se deixou aprisionar pelo rótulo de “pin-up”, abrindo inúmeras frentes de trabalho e militância. Kate Lyra: escritora, roteirista, diretora de cinema, pesquisadora, produtora musical Mariza Tavares “Devo ser a única pessoa no mundo que conseguiu um papel porque falava abominavelmente o português”, diverte-se. Como modelo, começou a trabalhar aos 17 anos, e também cantava e dançava. Seu agente a levou para um teste no México, onde o músico Carlos Lyra, 16 anos mais velho, se dedicava à montagem do musical “Pobre menina rica” para a TV daquele país. Foi paixão à primeira vista. Casaram-se em 1969 e, em 1971, vieram para o Brasil, onde nasceu a filha do casal, a cantora e compositora Kay Lyra. Para descomplicar a vida, Katherine Lee Riddell Caughey adotou o sobrenome do marido. Ficaram juntos até 2004. No dia 3 de julho, Kate completará 74 anos em plena atividade. Desde 2007, seu parceiro profissional e de vida é Steve Solot, uma referência no setor audiovisual norte-americano e brasileiro. Depois de mais de uma década como executivo da Motion Pictures Association na América Latina, que representava os grandes estúdios, ele ocupou cargos na Netflix e na Rio Film Commission. Coincidentemente, ambos nasceram no estado do Arizona, e foi lá que oficializaram o casamento, em 2017. “Estamos sempre desenvolvendo novos projetos. É muito bom quando se tem um parceiro com a mesma energia e curiosidade sobre o que acontece no mundo”. Os dois acabaram de lançar um curso de inglês técnico para profissionais da área de audiovisual em três níveis: básico, intermediário e avançado. O objetivo é qualificar a mão de obra que atua nos bastidores, de maquiadores e continuístas a eletricistas e técnicos de som. “Com o streaming, há muitas possibilidades de coprodução, mas as equipes precisam dominar o inglês para ter oportunidades na carreira”, explica. Uma versão em espanhol está a caminho. No segundo semestre, realizarão a 14ª. edição do Latin American Global Film & TV Program, em Los Angeles, que atrai não apenas participantes brasileiros, mas também de outros países. O programa inclui palestras dadas por especialistas e acesso ao American Film Market, um dos maiores eventos do mercado de produtores independentes. Inclui ainda uma sessão de “pitch” e Kate se encarrega de preparar o que não se sentem à vontade para apresentar suas propostas em inglês. Como pesquisadora do Centro de Estudos Sociais Aplicados da Universidade Candido Mendes, que tinha um núcleo de estudos musicais, ficou fascinada com o universo do rap e do funk. Escreveu dois artigos acadêmicos publicados aqui e nos EUA, além de viver uma experiência inesquecível ao sair de um baile na favela com outros pesquisadores: “Estava dirigindo e fomos parados. Um dos policiais inclusive apontou para o relógio e disse: ‘isso é hora de estar saindo da favela? Vão me dizer que têm parentes que moram lá?’. Comecei a explicar que estávamos ali para fazer uma pesquisa e notei que cochichavam entre si: ‘é aquela do brasileiro tão bonzinho’. E nos deixaram ir, graças ao bordão”. A receita de Kate para envelhecer bem? Além de estar sempre envolvida em novos projetos, faz ginástica todo dia e check-ups regularmente. Sobre dietas, é categórica: “nessa idade, já sabemos o que devemos ou não comer”. Usa uma citação do escritor Robert Louis Stevenson como um de seus mantras: “O mundo é tão cheio de coisas maravilhosas que todos deveríamos ser felizes como reis” (“The world is so full of such wonderful things, I think we all should be happy as kings”). “A frase continua me alimentando. Também me move uma fala de Vinicius de Moraes, durante uma entrevista, quando lhe perguntaram se tinha medo da morte: ‘não, eu tenho é saudades da vida’. Hoje posso dizer, com grande compreensão, que tenho muitas saudades da vida, que dança a nosso redor, e que cada momento é precioso”.